domingo, 5 de junho de 2011

Encontrando um Amigo

         Eu estava solitário, totalmente. Ninguém para dividir, dar ou trocar nada. E assim ia, se arrastando. Eu não queria que fosse assim, mas como poderia ser diferente? Nem dependia de mim. E das piadinhas na sala, dos blogs engraçados, das músicas toscas, das manias idiotas, das pessoas idiotas em volta, de tudo isso eu tirava minha vivência, era muito idiota, era maçante saber que estava desperdiçando de tal forma.

         Então fazia as coisas que "gostava", comecei a fazer aulas de violão gratuitas na escola, era legal e simples, muito fácil, nem ensinava nada difícil ou bom. Lá pela 3ª ou 4ª aula eu acho, duas pessoas entraram na classe, eles começaram ali e eles pareciam extremamente legais, estavam na classe seguinte, eram um ano mais velhos. Então queria conversar com eles, saber mais sobre eles, porque eu estava numa missão, numa busca por um amigo. Era um objetivo oculto mas que sempre estava lá, e ele apareceu novamente como meta principal a partir desse dia.

         Eles eram estranhos e diferentes, não vou mentir que tinha preconceito com eles... Andavam sempre juntos em 2, e ficavam escutando música e conversando. Ele tinha calça muito colada, eu achava aquilo ridículo e estranho demais, todo mundo chamava eles de homossexuais e eu passei até a concordar (mas sem falar nada).

         Eles trocaram o horário do curso de violão e então passaram a fazer a aula mais cedo, logo na semana seguinte eu não vi eles na aula. Fiquei meio triste, mas ok... é assim mesmo, fazer o que. Então na semana seguinte eu estou entrando na escola para ir fazer a aula e me deparo com um deles, o de calças coladas, e vejo ele sozinho ali num banco tocando (tentando tocar) violão. Paro, penso por uns 10 segundos, e resolvo ir até lá (2 metros de distância apenas) e pergunto que horas são. Eu já sabia que horas eram, ou ao menos tinha uma ideia, mas mesmo assim acho que foi a melhor coisa que eu já fiz. Ele me respondeu, ainda tinha vários minutos antes da aula.

         Então eu me sentei do lado dele e tentei puxar conversa, sobre o que ele ouvia e etc. Ele me respondeu que escutava rock psiscodélico, eu não fazia muita ideia do que se tratava. Então quando foi minha vez de responder o que eu costumava ouvir, eu pensei um pouco e pela primeira vez iria falar a verdade, porque havia alguma chance de que ele conhecesse e gostasse. Eu gostava naquela época de Rock Progressivo e Folk, tipo Jethro Tull, Gentle Giant, Supertramp e etc... e finalmente falei isso para alguém que conhecia essas bandas, e que de certa forma gostava um pouco.

         Que estranho, existiam pessoas "parecidas" comigo, eu nunca tinha encontrado alguém assim, era muito diferente, eu sempre vivi nesse mundo idiota de cidade pequena mainstream. Então chega o amigo dele e outros dois caras que eram da sala dele, traziam uma coca-cola... Me ofereceram, a gente bebeu... alguns comentários sobre estar financiando guerras e o capitalismo, algo que nunca havia escutado alguém dizer enquanto tomava coca-cola, mas que eu concordava.

         Então os outros dois amigos sairam e ficou só eu e eles, ficamos conversando... Papo-Cabeça, eu nunca havia tido um, por isso mesmo acho que exagerei, ficamos falando sobre Capitalismo, Socialismo, Guerra do Iraque, Mainstream, Underground, Filosofia, Escola, Vida, etc.... Isso tudo em 20 minutos, e eles queriam me mostrar uma banda que eles tinham descoberto e segundo eles era muito boa, se chamava MGMT, que nome estranho para uma banda eu pensei, mas era legal. Eu tinha acabado de ganhar o iPod num concurso, então usamos ele para achar o video da banda no youtube, eles queriam me mostrar Time to Pretend, só que não acharam, acabaram mostrando Love Always Remains. Eu nem gostei tanto assim, era meio chatinho, eu não estava acostumado a aquilo, e a letra, eu nem sabia da letra, se soubesse teria sido diferente.

         Enfim, já estava na hora da minha aula, fomos caminhando até a saída da escola enquanto conversávamos, trocamos elogios em relação aos conhecimentos do mundo, e como éramos pessoas diferentes das outras dessa escola de merda. Combinamos de conversar mais depois, foram embora e eu fui para minha aula. A partir dali começamos a conversar e várias coisas aconteceram, ganhei um amigo.

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