Meus problemas não são a existência de algo ruim, mas a ausência de algo bom. São portanto de uma natureza mais tolerável porém igualmente triste. Propago falsas esperanças a mim mesmo, pois se avaliarmos possibilidades não seria racional esperar algo dali.
As vezes vejo todas essas pessoas a minha volta e a noção é que todas vão desaparecer um dia, mas apenas porque eu vou deixar de existir, vou sair deste lugar e nada sei se vou a lugar algum, provavelmente não, é ridículo querer ter fé. Mas o pior é imaginar que não vou poder sentir saudades, nem sequer me lembrar. É impossível, mesmo que digamos, eu vá para para outra dimensão, renasça ou então o clichê das crenças (céu e inferno), mesmo assim eu não poderia me lembrar, é fisicamente impossível, minhas lembranças estão no meu corpo e lá ficarão até se deteriorarem.
Mas então parece que tenho medo de morrer. E constatar a fragilidade inalienável do ser apenas piora a situação. Vejo e só vejo oportunidades para tal, sendo que se me preocupasse em demasia com certeza desenvolveria paranóia ou esquizofrenia. Mas o medo não se deve ao fato de que perderei tudo, mas de que não ganhei nada na verdade, ao menos ainda.
Porque é muito mais fácil querer deixar a vida, não digo como suicídio mas apenas não temer a morte, quando se está feliz e realizado. A tristeza e insatisfação apenas causam um sentimento de derrota que seria concluído totalmente com a morte e que talvez seja revertido ao longo da vida. E portanto aí entra a questão do suicídio, se for percebido que o estado de tristeza e derrota é perpétuo em vida, a única forma de acabar com esse estado seria pela morte, mas isso é o auge da desesperança, raramente é alcançado realmente, normalmente é apenas uma impressão.
Voltando... A ausência de coisas realmente ruins na vida criam uma lacuna, que pode ser preenchia hora pela ausência de coisas boas, hora por um vazio de controle mental. Esse estado inerte possibilita o controle de certa forma dos problemas, banalizando as tristezas e felicidades já que não há um comparativo de maior amplitude e ninguém guia a intensidade dos sentimentos e sensações por medidas absolutas. Mas é incrível essa necessidade do ser-humano por ter problemas, eles sempre vão existir, apenas porque alguns tem problemas mais simples, inventados e fúteis do que outros.
Ah onicronia, dedico um parágrafo novamente a ti. Sinto falta da onicronia boa, aquela que diz que tudo ficará bem para sempre e que tudo de bom sempre restará. De fato a onicronia é a causa para a falta de temor da morte, levando a imprudência ou suicídio, sendo a onicronia benevolente e a maléfica responsáveis respectivamente. Mas basear decisões vitais e fatais por uma simples ilusão sentimental é irracional, tão irracional quanto acreditar nela.
Somos guiados por ilusões e nos perdemos em desilusões que muitas vezes não passam de ilusões ruins, nunca veremos a realidade inerte e completa, por isso sempre acentuamos a pouca informação que temos, seja para melhor, seja para pior.
Desejar a morte é ruim, temê-la é pior ainda. É melhor não pensar nisso, eu nunca realmente penso, só as vezes raramente, quando não tenho nada para fazer e penso que poderia estar fazendo algo, pois ainda estou vivo.
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