quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Falso-Sábio Solitário, Perdido e Triste

       Parte-vida de estudos, reflexões e aulas. Não que fosse o principal em sua vida, só porque apreciava o conhecimento, a êxtase que vinha de entender. Como numa missão institua a si mesmo o objetivo de saber, pois por algum motivo que ainda não conseguia explicar, preferia o amargo sabor da verdade à doce ignorância. Levava a vida, ainda jovem, em um perfeito equilíbrio entre estudos e vivência, de forma que além de aprender (Com Livros, Pessoas, Mestres, Internet) podia curtir as banalidades sociais e prazeres ingênuos. Ó mas era um problema, sério aliás, ele não conseguia curtir, por mais que tentasse, sua mente sempre estava em outro lugar, um lugar maior, com perspectivas distantes e visualizações menos parciais.

       Talvez por isso algumas pessoas repudiassem sua presença, sua forma de falar e o conteúdo de sua fala, como se sempre precisasse de uma analogia ou alegoria para a situação atual, ou simplesmente informando que aquilo era demais simples para ser apreciado, como se a complexidade significasse algo especial, como se uma frase não pudesse conter um texto.

       Enquanto isso outras pessoas o adoravam, consideravam-no um mestre, como se suas linhas de pensamentos sem destino ou as ideias soltas que ele produzia significassem algo de importante, algo de útil para a vida, como se uma análise transformasse o objeto em análise. Ao contrário de sua época, aonde quem quer que soubesse falar palavras raras e tivesse lido alguns livros se achava extremamente categórico e importante, ele era humilde, ou tentava ser. De certa forma falsa, pois em seu interior sentia ser um pouco especial e acima dos outros, sentia que faria algo de importante, que precisava fazer algo de importante. Mas continuava desprezando qualquer elogio, sempre diminuindo-o a algo próximo de um insulto. No lugar de mestre colocava-se como discípulo tolo, ou no lugar de Pensador colocava-se no lugar de um Débil agonizante.

       Estilo peculiar, como uma fusão de diversos. Ele não fazia ideia do que achavam dele, não fazia a mínima, não nascera bonito ou feio o bastante para causar impressões que se externalizassem em sorrisos, gestos e olhares, e a hipocrisia e falsidade em nome da boa educação e cordialidade social tiravam toda crença que podia ter nas palavras que as pessoas lhe dirigiam. Na verdade ele esperava simplesmente que as pessoas contassem a si qual era a opinião delas, como se isso fosse algo normal, mas sabe-se que as opiniões verdadeiras são as últimas a serem compartilhadas, sinceridade é menos comum do que a verdade¹.

       E assim vivia, dentro de seu mundo interno, achando que seu mundo era mais expandido do que os outros, mais diverso e vívido que o real e que sobrepunha o real, que sua interpretação do mundo era a melhor que podia ter para si. Se auto-impunha regras, uma disciplina longínqua e pouco utilizada, atrás de objetivos grandiosos e distantes que talvez nunca alcançasse, mas não conseguia descansar se não estivesse cada vez mais próximo deles.

       Até que eventos, pessoas e reflexões o fizeram concluir tudo de novo. Como pudera ser tão arrogante a ponto de pontuar sua vida, de concluí-la? Como pudera mesclar sua interpretação com a realidade, tornando as duas a mesma? E por fim, como pudera viver pensando que seus objetivos eram melhores do que os objetivos dos outros, ou que seus objetivos eram mais dignos e honrosos?

       Porque algumas pessoas simplesmente tem de pensar demais até chegar a conclusão de que o certo é não pensar em nada afinal, que a ignorância é uma benção a qual vemos como maldição a primeira vista, e o conhecimento como remédio que parece ser não passa de um veneno que deve ser utilizado em poucas quantidades? Ou porque a caverna¹ não pode se tornar aconchegante apesar de só vermos sombras? Porque não pensaram que talvez fora da caverna seja frio e sombrio?

       Começou a fazer apologia a ignorância e cultuar a simplicidade, mas era tarde demais, ele nunca soube muito para se considerar sábio, apesar de ter recebido elogios que lhe davam ar de sábio, inteligente e conhecedor, mas o pouco que sabia não permitia que se desvincilhasse totalmente, e isso o perturbava, porque por mais que queria viver uma vida feliz e simples ele era quase incapaz. Quase, pois na verdade era falta de prática. Ou talvez estivesse praticando errado, estivesse tentando tomar a fórmula dos outros para si mesmo, sem considerar que seus fatores eram diferentes e precisava de uma formula única, como todos precisam.

       Aquela sensação de diferença e especialidade se extinguiu dentro de si, a compulsão por saber tornou-se optativa. O pessimismo ou otimismo consequentes da análise que fazia, também sumiram. A auto-depreciação que utilizava como alternativa à humildade se tornou algo mais próximo da mesma, a arrogância que cultivava mentalmente em relação as pessoas tornou-se imparcialidade de julgamento e substituiu o termo pior e melhor por diferente e diferente.

       Viu que além do ser, estão as ações e palavras do ser, e que delas extrai-se talvez o que aquele ser realmente é, não são conceitos separados, mas sim conceitos que se completam num silogismo jocoso e talvez errado. E que a perfeição é algo imperfeito por natureza, já que não existe, e se pudesse escolher não gostaria de presenciar a perfeição de forma alguma, pois o mundo é constituído de imperfeições e ele aprendeu a gostar delas tanto quanto gostava da perfeição. A imprevisibilidade possibilita a surpresa e a surpresa destrói a inércia e a inércia é o que torna a vida chata.

       E afinal porque precisa-se analisar algo que não tem o que se analisar, que não há o que fazer sobre isso, é algo que acontece do mesmo jeito que chove, e como as nuvens passa, e no caso individual é apenas uma vez, não há motivo para saber como será a próxima pois não haverá próxima, e não é só por isso que devemos temer ou sermos pessimistas, pelo contrário, há mil motivos para não. E mesmo que intrincado no ser estejam tais características e manias, não devemos nos render a quem nós somos se este "ser" no prejudica, nós devemos, tentar ao menos, ser aquilo que queremos e gostamos de ser.

       Então o Pseudo-Sábio Solitário, Perdido, Triste, Humildemente Arrogante e Egoisticamente Altruísta tornou- se algo... Diferente, nem pior ou melhor, apenas diferente. E para não cometer o mesmo erro, não colocará um ponto final ainda, só quando não der mais para escrever ou pensar

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¹Diferenciando as verdades cruas (fato) das verdades sinceras (opinião)
²Alegoria da caverna de Platão

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