Continuação de: Quando o Pêndulo Cessou
Tudo era branco, tudo era preto. O tempo passava rápido demais, o tempo sequer passava, o tempo não existia. Não se podia dizer a sucessão de pensamentos que não existia, nada podia ser observado, não havia sentidos para que a consciência pudesse perceber algo, mas nada existia, então mesmo que houvessem sentidos, eles estariam anulados.
Aquilo era o nada, não chegava nem a ser um vazio, era um nada.
E do nada, algo se formou. Não há como explicar. Talvez fosse simplesmente uma perturbação vinda de outra dimensão, algo assim. A inércia indicava manter o nada como nada, para sempre. Mas não foi isso que aconteceu.
É estranho pensar na criação do tempo. Afinal não há como usar expressões como: "em um piscar de olhos", "ao longo de...". Só sabe-se que começou como um tique-taque espacial, que agora começava, podia-se contar 1, 2, 3, se houvesse algo para contar e algo para ser contado. Como não havia matéria, o tempo reinava sobre o nada, e assim não era tão poderoso. Do mesmo jeito que o tempo veio, a matéria veio, explodiu em mil pedaços, de alguma forma, espalhou-se pelo espaço que ela mesmo gerou.
Existiam algumas leis, ninguém sabe quem as fez, ou o que eram de verdade. Elas permitiram que esses pedaços formassem corpos, celestiais. Esses corpos emitiam luz, outros não, todos se atraíam. Diversos agrupamentos foram formados. Era uma visão nebulosa, de diversos pontos luminosos, que iam do infinito até quem pudesse ver.
Em um pequeno ponto, tão pequeno que é impossível comparar com qualquer coisa que conhecemos. É muito menor do que um grão de areia comparado ao sol, ou do ódio comparado ao amor verdadeiro. Neste pequeno ponto do universo, criou-se um potencial. Um pequeno planeta que tinha características que possibilitavam vida baseada em carbono, só faltava um centelha que desse vida a um conjunto de proteínas.
Essa centelha se deu, ninguém viu como... talvez um raio. Talvez uma descarga, talvez tivesse vindo de outro pequeno ponto do universo, aonde esse processo já tivesse acontecido. Mas aconteceu, e assim, surgiu um ser novo nesse universo. A última palavra em complexidade material, a vida. Essa inovação talvez nem fosse a primeira a ser feita, talvez em outro universo, ou mesmo outra parte deste mesmo universo, já existisse a "vida". Porém ninguém havia patenteado esta invenção, ela estava livre para evoluir neste planetinha.
Muito tempo se passou, nada de importante acontecia. A olho nu (se este já existisse) não daria para se ver nada... seria muito mais agradável e prudente admirar a imensidão do universo, as nebulosas que parecem mais aconchegantes do que o clima ácido de um planeta. Enfim, enquanto a vida evoluia, o universo só continuava, em sua simples inércia, guiada por suas leis.
Enquanto isso, a consciência estava lá. Talvez tenha se ligado a algum objeto, um meteoro, algumas moléculas, mas nada disso podia aprazer todo o seu potencial, ela queria sentidos para sentir, queria lembranças para guardar. Nada disso podia ser feito enquanto se conectava e existia como simples materiais.
Mas naquele pequeno ponto do universo a vida chegava a criar sentidos, podia começar a guardar lembrança, em pouco tempo talvez pudesse cumprir quase todos os potenciais desta consciência. Mas esta consciência ainda não estava ciente deste lugar, ia sem destino nem razão, atravessando todo o cosmos, simplesmente existindo.
Formava-se então, dentro de um útero humano, um novo ser. Este novo ser já estava vivo, mas ainda não possuía uma consciência. Por meio do acaso, ou de alguma intempérie a consciência se fundiu neste novo ser. Agora ela estava condicionada, submetida, presa à ele. À deriva dentro de um caldo de emoções, sentidos e memórias que viria a ter. Ele nasceu. Era o final de todo um processo, o começo de outro.
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