quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Olhar de Macaco Velho

O olhar ao infinito
O olhar de quem sabe
Que olha e pensa
Pensa e olha
Olhar de macaco
Macaco Velho

Já sabe o que aconteceu
Já viu, já sabe de cor
Para ver de novo
Decorado
Basta olhar
Como um Macaco Velho

Olhar o infinito
Ter os dias contados
Depois de tantos dias passados
Ter os pelos crescidos
Anos acrescidos
Envelhecidos
Macaco Velho
Se tens um conselho
É o seu olhar

02/07/2016

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Sobre meus erros

Sou mais fraco do que penso
Iludo e acredito no bom senso
Sou mais forte do que faço
Cada ato é só mais um passo

Se é abismo ou pessimismo
Que analiso ou dou um sorriso
Depois caio profundo como raio
Antes que suba triste como pipa

A mesma que perderá para o cerol
E depois o vitorioso vangloriado
Dirá que a astúcia é seu anzol
Quando a derrota foi mero acaso

De qualquer maneira
O que tenho de imperfeito
E mesmo que assim não queira
Só digo que aceito:
Só vivo de acertos

Sobre meus erros

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Os Primórdios da Aventura

        Começa como um desejo, ficando latente por meses, talvez anos. Torna-se uma alternativa, apagada e esquecida, para retornar só quando realmente puder. Semeando a ação, colheita futura há de brotar.

        Algo para contar, algo para fazer. Cansado da rotina, instaurada pelos dias que vem e vão, pelas semanas que passam, e você só reage aos compromissos. Uma hora a oportunidade se fecha, e mesmo enquanto aberta, talvez pareça difícil passar. E talvez tenha-se pouco tempo, hora do planejamento começar.

        No banho, dentro do ônibus, antes de dormir, os pensamentos fluem conforme a imaginação projeta o futuro, o futuro possível, como será, o que farei, a sequência, lá tudo flui perfeitamente, qualquer incômodo pode ser ignorado como uma possibilidade ruim.

        O futuro imaginado deve ser planejado, os mapas impressos, os preços estipulados, os cronômetros acertados. Improvisação consegue suprir as lacunas, mas deve haver uma linha, algo sólido para improvisar com mais chaces de sucesso.

        Mas sabe, seria egoísmo. Fazer só para mim, mas isso é algo que deve ser feito só para mim, não afetarei ninguém realmente. Certas coisas não precisam ser compartilhadas, e outras, como nesse caso, podem ser compartilhadas mais tarde, depois de usufruídas a sós.

        Viajar sozinho seria egoísmo. Viajar sozinho sem permissão dos pais, deixando-os preocupados e desolados pelo período da travessia, seria um tremendo egoísmo. Fazer o que, histórias egoístas sempre soam melhor. Viver histórias egoístas geralmente parecem melhores. Não deve tornar-se um costume, mas variar a vida faz parte de viver. Além disso, preocupar alguém é uma ação mútua, não é só culpa minha. É como um soco que só pode ser sentido se o alvo quiser.

        Hora de planejar. Dia 13 de janeiro de 2012, uma sexta-feira treze. Assim livro-me de qualquer culpa, culparei o azar por qualquer infortúnio, e o desprezarei se a empreitada for bem sucedida. Preciso coletar informações, programar eventos e escrever uma longa carta. Hora de começar a planejar.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Coincidências ruins?

       As músicas perderam a magia inicial, os filmes não entretêm como antes, o céu desbotou do seu azul, o mar é só água, as árvores são paisagem, a paisagem é indiferente, as estrelas não passam de pontos luminosos, coisas bonitas são distrações, os dias são rotineiros, as horas passam normalmente, o tempo passa.

       Qual seria a causa? Pode ser o simples fato de que tais coisas se tornaram banais e não são mais especiais, já vivi bastante para enjoar delas? Ou é devido a falta de outras coisas que aconteceram ou deixaram de acontecer? Nesse ultimo caso seria difícil ter certeza, afinal pode ter sido apenas uma coincidência ruim.

       Mas um dia vou saber a resposta. =)

sábado, 17 de setembro de 2011

Quando a Inércia Ausentou

Continuação de: Quando o Pêndulo Cessou

       Tudo era branco, tudo era preto. O tempo passava rápido demais, o tempo sequer passava, o tempo não existia. Não se podia dizer a sucessão de pensamentos que não existia, nada podia ser observado, não havia sentidos para que a consciência pudesse perceber algo, mas nada existia, então mesmo que houvessem sentidos, eles estariam anulados.

       Aquilo era o nada, não chegava nem a ser um vazio, era um nada.

       E do nada, algo se formou. Não há como explicar. Talvez fosse simplesmente uma perturbação vinda de outra dimensão, algo assim. A inércia indicava manter o nada como nada, para sempre. Mas não foi isso que aconteceu.

       É estranho pensar na criação do tempo. Afinal não há como usar expressões como: "em um piscar de olhos", "ao longo de...". Só sabe-se que começou como um tique-taque espacial, que agora começava, podia-se contar 1, 2, 3, se houvesse algo para contar e algo para ser contado. Como não havia matéria, o tempo reinava sobre o nada, e assim não era tão poderoso. Do mesmo jeito que o tempo veio, a matéria veio, explodiu em mil pedaços, de alguma forma, espalhou-se pelo espaço que ela mesmo gerou.

       Existiam algumas leis, ninguém sabe quem as fez, ou o que eram de verdade. Elas permitiram que esses pedaços formassem corpos, celestiais. Esses corpos emitiam luz, outros não, todos se atraíam. Diversos agrupamentos foram formados. Era uma visão nebulosa, de diversos pontos luminosos, que iam do infinito até quem pudesse ver.

       Em um pequeno ponto, tão pequeno que é impossível comparar com qualquer coisa que conhecemos. É muito menor do que um grão de areia comparado ao sol, ou do ódio comparado ao amor verdadeiro. Neste pequeno ponto do universo, criou-se um potencial. Um pequeno planeta que tinha características que possibilitavam vida baseada em carbono, só faltava um centelha que desse vida a um conjunto de proteínas.

       Essa centelha se deu, ninguém viu como... talvez um raio. Talvez uma descarga, talvez tivesse vindo de outro pequeno ponto do universo, aonde esse processo já tivesse acontecido. Mas aconteceu, e assim, surgiu um ser novo nesse universo. A última palavra em complexidade material, a vida. Essa inovação talvez nem fosse a primeira a ser feita, talvez em outro universo, ou mesmo outra parte deste mesmo universo, já existisse a "vida". Porém ninguém havia patenteado esta invenção, ela estava livre para evoluir neste planetinha.

       Muito tempo se passou, nada de importante acontecia. A olho nu (se este já existisse) não daria para se ver nada... seria muito mais agradável e prudente admirar a imensidão do universo, as nebulosas que parecem mais aconchegantes do que o clima ácido de um planeta. Enfim, enquanto a vida evoluia, o universo só continuava, em sua simples inércia, guiada por suas leis.

       Enquanto isso, a consciência estava lá. Talvez tenha se ligado a algum objeto, um meteoro, algumas moléculas, mas nada disso podia aprazer todo o seu potencial, ela queria sentidos para sentir, queria lembranças para guardar. Nada disso podia ser feito enquanto se conectava e existia como simples materiais.

       Mas naquele pequeno ponto do universo a vida chegava a criar sentidos, podia começar a guardar lembrança, em pouco tempo talvez pudesse cumprir quase todos os potenciais desta consciência. Mas esta consciência ainda não estava ciente deste lugar, ia sem destino nem razão, atravessando todo o cosmos, simplesmente existindo.

       Formava-se então, dentro de um útero humano, um novo ser. Este novo ser já estava vivo, mas ainda não possuía uma consciência. Por meio do acaso, ou de alguma intempérie a consciência se fundiu neste novo ser. Agora ela estava condicionada, submetida, presa à ele. À deriva dentro de um caldo de emoções, sentidos e memórias que viria a ter. Ele nasceu. Era o final de todo um processo, o começo de outro.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Quando o Pêndulo Cessou


       O dia estava mais claro do que o normal. Os raios do sol se entrelaçavam entre a poeira que flutuava naquele cômodo mal-ajambrado. De certa forma desarrumado, por outro lado sujo, o dono certamente não tinha a organização de seu quarto como prioridade.

       Os olhos se abrem, as pupilas dilatadas diminuem até se adequarem à iluminação indireta do sol. Os feixes que passavam pela persiana semi-aberta aqueciam em faixas o lençol. O sujeito levantou num pulo ao perceber que estava acordado, lembrar quem era e o que tinha que fazer no dia.

       Seria um grande dia. Anos de pesquisas, o que seria um eufemismo para o trabalho de toda uma vida, todos concentrados no que resultaria deste dia. Livros grossos foram lidos de fio a pavio, outros escritos. A fórmula que este sujeito estaria prestes a atingir possibilitaria a vivência infinita, ele estava certo de que teria sucesso em sua empreitada.

       Arrumou-se sem perceber, estava a caminho da universidade, onde, em seu laboratório, estava sendo sintetizado algum tipo de elixir. Um líquido fosco, verde fluorescente escorria do funil que afunilava-se em algo do diâmetro de uma agulha, pingando pequenas gotas em períodos regulares. Em 13 minutos haveria quantidade suficiente para obter o efeito desejado, só bastaria ingerir e esperar a reação corpórea, que demoraria cerca de 5 minutos.

       Diversas contradições permeavam a teoria do sujeito. Diversos colegas alegaram insanidade, que sua pesquisa era totalmente fantasiosa, ele nunca conseguiria atingir seu objetivo. Mas ao contrário da opinião popular, ele estava totalmente crente de que, estando certo, conseguiria.

       Havia um único risco. Ao beber o "elixir da vida eterna", como apelidou sua invenção/descoberta de forma evidentemente não criativa, podia perder sua consciência. Tornar-se um zumbi reativo, que seria guiado totalmente pelos seus sentidos e emoções, não haveria no que pensar, não haveria escolhas a fazer, ele não estaria vivo, apenas existiria.

       Isto porque o elixir transportaria a consciência humana para um plano dimensional diferente, sendo assim indestrutível na sua dimensão original, pois só haveria uma conexão entre esta dimensão consciente com os sentidos e espaço físico da dimensão atual, mesmo que o corpo físico fosse esquartejado, a consciência ainda existira, só perderia seus sentidos e suas lembranças. Nesta nova dimensão não existiria tempo, apenas um espaço, e este seria completamente composto pela consciência do sujeito.

       Caso a conexão entre esta dimensão e a dimensão física do mundo se desfizesse, a consciência ficaria presa na dimensão. Sem nada, sem sentidos em que atuar, sem lembranças para rever. Seria uma existência infinita e indiferente, não haveria sentimentos, não haveria nada. Ele estaria morto, ele morreu, mas continuava existindo... Para sempre.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Esses últimos dias

        Eu andava ansioso mas temeroso, como seria? Os fones apenas me acalmavam. No final não foi nada demais, foi como outro dia na escola em que de repente coisinhas engraçadas acontecem, um sorriso, alguém comete uma gafe, todos riem. Alguns permanecem calados, claro, talvez não seja de sua natureza rir simplesmente com coisas fúteis e inconsequentes, mas sabe, a própria alegria consiste de tais coisas, desde que não humilhe ou prejudique ninguém, é importante encontrar diversão em coisas simples e pequenas. Não perder tempo com elas, mas aproveitar o tempo.

        Então as pessoas continuam, um lado para o outro, tem de cumprir suas responsabilidades, nem sabem mais se estão cumprindo para si mesmas ou para outras pessoas. Isso tudo é muito estranho, é uma espontaneidade forçada, é um estudo laborioso, não é um prazer libertário. Então continuo, sobrevivendo socialmente, pelos restos que deixam. Ninguém se importa. Porque deveriam?

        Fui comprar um sanduíche, ele estava muito bom. Então porque não viver de bons sanduíches? Não, eles engordam, logo depois alguém virá dizer: Hein, você está meio cheinho.
Sabe, na verdade e isso, as pessoas deviam ser sinceras, dizer o que acham das outras, talvez assim elas se toquem. É impossível não julgar, dizer o julgamento é opcional, mas o que realmente influencia uma atitude prepotente é a relação do julgamento. Se você sempre acredita que o seu julgamento é verdadeiro, você é preconceituoso e julgador, e a maioria das pessoas. Mas se você aceita o seu julgamento como uma impressão e não como uma verdade, você então se torna útil às outras pessoas, e talvez ele venha a se tornar verdade.

        Então os prazeres banais da vida, parar de comer, simples como um toque. Porque há tanta discussão sobre o assunto, é tão simples, pura força de vontade. Controle da mente sobre o corpo. Controle da alma sobre a mente. Acreditar que tudo acaba na extensão da matéria e da percepção é ser racional e realista, é não ter fé, é ser totalmente incrédulo. Talvez seja a forma mais próxima de atingir a verdade, mas não de atingir a felicidade. E os seres-humanos não foram feitos para coexistir com a verdade real, só com a verdade que querem acreditar, a mera ficção que lhes aparece como verdade e lhes satisfaz se for verdade, portanto deve ser verdade.

        Caminhando até a livraria, livros, conhecimento... expansão. Ler e aprender, ler para saber, ler para ser... E assim talvez quando pare para analisar, o que sou, possa dizer: Sou o que li, sou alguma coisa. Posso não ser eu mesmo, mas eu mesmo não sou nada, eu mesmo não passo de algo a ser alguém. Eu mesmo não existe.